“o monstro define-se em primeiro lugar, em oposição a humanidade. ele é o seu inimigo mortal, aquele contra o qual só se pode reagir pelo extermínio” - luiz nazário
com tudo que anda acontecendo no mundo, decidi que não vou falar sobre o oriente.
vou fazer assim como uma criança de 12 anos que vai à casa dos seus amigos e pesquisa “filme de terror que dá mais medo”.
vou me divertir e falar de monstros.
então, o que é um monstro?
noël carroll, nosso grande filósofo do horror, define o monstro como um personagem extraordinário em um mundo ordinário.
ou seja, uma múmia não é um monstro só porque ela é uma múmia, mas porque ela insiste em viver no mundo dos humanos.
para existir o monstro tem que primeiro existir uma normalidade à qual ela não se conforma, ou, pior ainda, que ela destrói.
e essa convenção que ela quebra não é só biológica, como nesses casos:
bicho que fala
homem bicho
homem morto
homem meio morto
mas é também geográfica, a maioria dos monstros vem de longe: do fundo da terra, do topo da montanha, de uma ilha remota, do espaço.
“os monstros são originários de lugares fora e/ou desconhecidos do mundo humano. as criaturas vem de lugares marginais, ocultos e abandonados (…) pertencem a arrabaldes fora e desconhecidos do comércio social comum.” - noël carroll
no caso da múmia, ela vem do oriente, mas não estamos falando sobre isso.
outra característica comum do monstro, mas não obrigatória, é sua categorização como imundo e repugnante.
eles vêm de lugares imundos, são feitos de carne podre, são associados com resíduos químicos, têm doenças ou são amigos de animais rastejantes.
“os personagens os veem não só com medo, mas também com nojo, com um misto de terror e repulsa.” - noël carroll
ou seja, o monstro vem de longe, é diferente da nossa normalidade, nos remete a sujeira e doenças.
podemos inferir que o monstro provavelmente tem seus próprios deuses, suas próprias regras e línguas, provavelmente comem o que não comemos e cheiram como não cheiramos.
então quando a gente consegue definir o monstro, nós conseguimos nos definir também, o monstro é o que não somos, ou nós somos o que o monstro não é.
lógico que sempre em um local de superioridade, nós somos melhor que o monstro.
portanto, o monstro deve ser mantido à distância para não nos transformar em um deles, ou pior ainda, tornar nossa sociedade como a deles.
“a morte do monstro é sempre uma apoteose da civilização” - luiz nazário
enfim, muito bom que o filme de terror é tão apolítico e permite nos aterrorizar e divertir sem ter que pensar em mais nada.
qual o seu monstro favorito?
“(…) o que horroriza é o que fica fora das categorias sociais e é, forçosamente desconhecido.” - noël carroll
ps: este texto possui altas doses de ironia, se você não viu isso por favor leia de novo.
Adorei como você juntou duas das suas paixões - a comédia e o horror - num texto altamente crítico e que, no fim, serve não só como alerta, mas também como consolo.
genial & criativo & muito gostoso de ler!!!!!!